sábado, outubro 28, 2006

"Jocilene, a sua pergunta é muito importante..."

É assim que Alckmin começa respondendo à pergunta "da eleitora".

Jocilene mora em Belém, capital do Pará. Ca-pi-tal, é bom que se diga, porque a pergunta da Jocilene incluia a frase "moro na região amazônica e fico chocada com coisas que vejo, como o desmatamento" - só se for o desmatamento das árvores da praça da igreja.

Não, a Jocilene não mora numa árvore no meio da Amazônia e nem é amiga de um macaco. É bem provável que a Jocilene entenda mais de Amazônia do que eu, mas que ela não mora com macacos, isso eu garanto!

A questão é que a pergunta da Jocilene não foi a pergunta da Jocilene. Foi uma pergunta padronizada, redigida, corrigida e impressa numa ficha como o logo "Eleições 2006".

Jocilene, Edinei, Maria, Clodoaldo, Lula, Alckmin. Personagens de um debate pré eleitoral na Rede Globo. Ou melhor, da Rede Globo. Porque o debate e o espetáculo ficaram por conta dela.

Jocilene lia sua pergunta numa ficha da Globo, se punha de pé na arquibancada da Globo e tremia em frente às câmeras da Globo. Câmeras essas que a Globo fazia questão de exibir o tempo todo. Atrás de Alckimin e Lula, sempre reluziam uma ou duas delas. Elas, as câmeras, gritavam aos quatro cantos: "Olha eu aqui!"; "Eu sou da Globo, viu?"; "Você, o da poltrona, só está aí se esbaldando em democracia, porque eu estou aqui, e eu sou da Globo".

Uma hora antes do debate, antes também da Regina Duarte aparecer com seu vestidinho preto rodado na novela das oito, antes disso teve o Jornal Nacional.

Sim senhor, "Nacional" é o nome. "Global" devia ser o sobrenome. Isso porque metade deste fabuloso modelo de jornalismo foi ocupada com a pura propaganda do debate que se seguiria. Filmaram os estúdios, entrevistaram a equipe, mostraram mais uma meia dúzia de câmeras. Enquanto isso, o Bonner dizia "não perca" e "o debate é um ótimo momento para ouvir propostas e escolher seu candidato".

E enquanto o Bonner falava e enquanto o jornal filmava câmeras, a "nação", aquela à qual o título do jornal faz referência, deve ter visto umas 10 mortes, uns 10 nascimentos e uns 20 acidentes de carro - todos eles muito mais importantes e "nacionais" que a câmera do estúdio da Globo.

Quem ganhou o debate? Lula? Alckmin? Não! A Globo!

PS: Nem sei se é mesmo Jocilene o nome da garota paraense. Não importa, porque o nome da Globo eu e todo o resto sabemos.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Não sei

Não sei pedir desculpas. Não sei dizer obrigada, nem sei dizer "eu te amo". Não sei se eu sei o que acho que sei, nem sei se saber isso é mesmo importante.

Não sei dar abraço, nem aperto de mão. Não sei sorrir direito, nem sei ficar brava. Não sei ser discreta, não sei chamar atenção. Não sei estar sozinha, nem sei do lado de quem eu sei estar.

Não sei fazer piada e também não sei rir. Não sei criticar. Também não sei fazer elogio, a menos que seja vazio.

Não sei o porquê escrevo isso, mas sei que quero falar.

Sei também que poucos vão escutar, ou poucos vão querer escutar. Talvez ninguém.

Mas talvez eu é que não saiba dizer, não saiba gritar. Certamente, não sei.

Não sei o que raios me faz não saber tanta coisa, mas sei que eu não sei. E sei da angústia de que isso me faz saber.

domingo, outubro 15, 2006

Sem vc, quer dizer, sem pc!

Meu feriado sem pc: ..................................................................................................................... ............. ........................................................................................................... .......................................................... .................................................... ................................................................................. ..................................

Meu trabalho sem pc: ............................................................................................................................... ....................................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................. ................................................................................

Minha monografia sem pc: ...................................................................................................................... ................................................................................................................................................................ .................................................................................................................................................................... ......................................................................................

Minha vida sem pc: ................................................................................................................ ..................... ................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................................................................................

terça-feira, outubro 10, 2006

Depois de um certo empurrãozinho...

Acabo de passar pelo blog da Amanda e vejo estampada a frase "Jornalismo é um TESÃO!".

Isso me fez lembrar da coisa II, a segunda capaz de passar pela minha cabeça hoje: o jornalismo. Aqui mesmo eu já fiz críticas e já me disse por vezes decepcionada com o mundo das pautas, lides e offs. É que muitas vezes, esse é, sim, o mundo da imprecisão, da falta de crítica e do desânimo e isso sempre soa como o fim para uma estudante ainda um tanto idealista, pra não dizer bocó.

Mas ultimamente (e não me peçam pra dizer quando), passei a finalmente me ver jornalista. Andar por aí com bloquinho e gravador à mão, parar pra pensar que tudo à volta "é pauta", sair vendo a cidade nas molduras de uma fotografia de primeira página, conversar com um qualquer ou com qualquer um na tentativa de extrair dele "boa informação".

Sim, a descrição anterior é puro romantismo bocó. Mas é por isso que eu venho esperando desde que eu preenchi a ficha da Fuvest com o número 242. Tomar o repórter como herói romântico é bobagem, claro, mas é uma bobagem que eu estou adorando conseguir fazer.

Provisoriamente sem título

Tanta coisa no mundo.
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Por que será, então, que eu só penso numa só?

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um dia bom

Dias bons são, é claro, bons. E se não fossem bons, não se chamariam "bons", mas sim "maus". O problema é que, embora bons e, portanto, nada maus, os dias bons são insuficientes.

Insuficientes, sim, porque não são suficientes. Se fossem suficientes, asssim seriam chamados e dispensariam o prefixo.

Isso tudo quer dizer que os dias bons, e, portanto, nada maus, não cumprem sua cota de suficiência no seu papel de fazer sentir, adivinha, bem.

Isso porque sentir bem é insatisfazível, e o desejo de satisfação, infinito. Quer dizer que quando nos sentimos bem e, portanto, não nos sentimos mal, há e sempre haverá o desejo de sentir ainda melhor. Nada nunca basta, porque, se bastasse, eu não teria escrito "nada" e "nunca", mas sim "tudo" e "sempre".

A grama é mais verde do outro lado; a felicidade está sempre a um passo; o ciúme despropositado e o desejo infinito e, portanto, sem fim estão aqui e a grama, é claro, lá.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Massagem para o Ego

"Não é nada fácil andar nos salões dos poderosos deste mundo, aparentemente em pé de igualdade e muitas vezes rodeado de lisonjas, porque se é receado, e saber ao mesmo tempo que, mal se saia dali, o dono da casa talvez tenha de justificar-se em particular junto dos seus convidados por se dar com esses 'badalos da imprensa'. Como também não é nada fácil ter de pronunciar-se prontamente, e ao mesmo tempo de forma convincente, sobre todo e qualquer tema que o 'mercado' reclame, sobre todos os problemas imagináveis da vida, sem cair não só na superficialidade absoluta, nem tampouco, e principalmente, no indecoro do autodesnudamento e suas implacáveis conseqüências. O que é espantoso não é que haja muitos jornalistas humanamente transviados ou rebaixados, mas sim que precisamente esse grupo social, apesar de tudo, inclua pessoas de valor e perfeitamente íntegras em tão grande número, que os leigos nem imaginam facilmenete"

Max Weber