quinta-feira, novembro 30, 2006

Aos ecanos, com carinho

Há decadas não escrevo mais coisas melosas sobre a ECA.

Décadas? Mas eu cheguei não faz nem um ano? E que coisa! Já faz quase um ano. Já cumpri um quarto. O que acontece quando acabar o quarto quarto?

Pra falar disso, eu terei que discorrer sobre o dia mais infernal da minha vida. Mais precisamente, ontem.

Passei a manhã num lugar que é sem exagero uma espécie de preview do inferno: o quarteirão de exames práticos do Detran. Nunca me senti tão mal na vida. Pessoas estranhas me olhavam com ar de quem me julga (e, de fato, julgavam), passei três horas em pé recostada num muro sujo para depois ter que me humilhar frente a grosseria de uma idiota que, só porque está no banco do passageiro, acha que é melhor que eu.

Nem quero continuar a tratar disso, pois as reclamações, se me cansam, devem cansar em dobro aos outros.

O fato é que depois do inferno eu fui à ECA. Ah! Cheguei como quem finalmente consegue respirar. Como quem tinha perdido parte do fígado e agora encontrou (sim, eu sei o quão grotesca essa comparação é).

Uma amiga formada em jornalismo e que nem de longe exerce a profissão me disse que só conseguiu terminar a faculdade pelos amigos, por como eles a faziam sentir bem. E isso é ao mesmo tempo o meu medo e a minha ambição.

Por enquanto, me sinto bem longe do inferninho e perto da ECA. Mas as férias estão chegando e o próximo exame de direção também.

domingo, novembro 26, 2006

Do homem que vivia na minha cabeça mesmo antes de ela existir

Que é de ti melancolia?
Onde estais, cuidados meus?
Sabei que a minha alegria
É toda vinda de Deus...
Deitei-me triste e sombria,
E amanheci como estou...
Tão contente! Todavia
Minha vida não mudou.
Acaso enquanto dormia
Esquecida de meus ais,
Um sonho bom me envolvia?
Se foi, não me lembro mais...
Mas se foi sonho, devia
Ser bom demais para mim...
Senão, não me sentiria
Tão maravilhada assim.

Ó minha linda alegria,
Trégua dos cuidados meus,
Por que não vens todo dia,
Se és toda vinda de Deus?

Manuel Bandeira - A Canção de Maria

quarta-feira, novembro 22, 2006

Primeira vez

Entrei no ônibus e não quis andar muito. Eu geralmente vou até o fundo. Lá é um tanto menos malcheiroso e costuma ter lugar pra sentar. Mas dessa vez fiquei acostada num degrau logo no começo.

Me fiz babar por alguns minutos até que lembrei do livro na minha bolsa. Saquei o Saramago. Ô maravilha!

Mergulhei. Profundamente. Virava e devorava cada página. O tempo passou e eu ainda virava páginas. Virava. Virava. Virava...

Um raro ponto final no meio do caminho me expulsou do texto. Zap! Um oftalmologista ficara cego e foi como se me dessem um chocalhão. Hora de acordar!

Quase. Se o homem não cega logo, teria perdido. É. Perdido o ponto, o caminho pra casa, o rumo, o sentido de direção. Quase. Ainda bem que ele cegou!

O leitor não se ultraje com a pseudoliterariedade desse texto. Iniciante é assim mesmo. Dizem que a primeira vez nunca se esquece. Meu primeiro Saramago, aiai.

domingo, novembro 12, 2006

Escrito numa tarde de segunda feira

Aula intolerável. O professor acaba de dizer "Banco Nacional da Habitação". Deus, quando foi que eu cochilei? Até agora a última coisa que eu ouvira foi "Adam Smith". Maldito "grande capital"! - Proponho eu a revolução? Não, só escrevo o que acaba de vir do cara de pé aí na frente.

Eu podia estar tomando milk shake na piscina, eu podia estar assistindo "Além do Cidadão Kane", eu podia estar com alguém mais agradável! Maldito Grande Capital!

Odeio olhar pro lado e ver que tem gente escrevendo enquanto eu fico budejando. Foi por isso que eu peguei a caneta e comecei a traçar essas linhas sem sentido. Acho que vou botar isso no blog, eu boto tudo no blog. Maldito Grande Capital!

A "loira" do meu lado está esticando o pescoço pro meu caderno. Provavelmente não entende por que eu não paro de escrever. Coitada dela, ela fez "Política IV". Ela tem motivos pra fazer anotações de verdade e ainda assim tem inveja do meu caderninho. Coitada dela. Maldito Grande Capital!

Obs:
Muito, muito obrigada às corajosas que responderam ao meu último delírio!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Que os deuses salvem os blogs!

Sempre pensei que eu não sei o que quero.

E eu não sei mesmo. Só que agora danei a bancar a metida e pensei que há uma coisa que eu quero.

Eu quero alguém!

Foda! É, foda mesmo porque não é ninguém em específico. Eu quero alguém!

Também não quero qualquer um. Eu quero alguém, porra! Alguém e ponto final.

E cada vez mais eu me convenço da minha idéia de que comunicação virtual é mesmo muito mais eficiente. Eu jamais falaria isso diretamente pra alguém...mesmo eu querendo muito tirar isso de dentro. É! Tenho um tema pro meu TCC...

Ah! Lavação de alma! Amém!

domingo, novembro 05, 2006

Me passa o Nietzsche, por favor?

Duas boas (e velhas) amigas e um feel good movie na telona. De que mais eu preciso? Naquele momento, de mais nada.

Há muito tempo que eu não as via e eu tinha me esquecido. Tinha me esquecido de como era bom. De como era sentir aquela segurança boa de quem sabe em que chão está pisando.

Eu adoro a ECA e ela me trouxe muita coisa. Mudei um tanto. Aprendi muito (não necessariamente com as aulas). Mas eu estava sentindo falta da Dayanne de antigamente. Aquela que achava que Nietzsche era alguma coisa de pôr na salada e que discutia o novo brinquedinho do Mc Lanche Feliz.

Eu adoro a Dayanne ecana. Mas ela é um tanto insegura, um tanto preocupada demais. Ela sente tudo muito mais, pensa tudo muito mais, e essa hiperatividade às vezes cansa.

A ECA é como um amante: muito bom, emocionante, cheio de coisas. Mas eu também tenho um casamento de uns 50 anos: estável, tranquilo e bom. E como eu tinha saudades desse meu maridinho!

A ECA é o Fort Knox, com uma promessa de sucesso, gente adorável e que eu amo. Mas de alguma forma, eu acho que encontrei minha Glocca Morra.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Bom senso?

Há dias estou encurralada com um trabalho a entregar nesta terça-feira. O trabalho exige que eu compare uma das coberturas da Folha de S.Paulo e os métodos aplicados no processo de reportagem com o que o Manual de Redação da Folha dita.
Pros felizardos que não são aspirantes a jornalistas, um Manual de Redação é uma espécie de guia que toda empresa jornalística tem. Nele, a empresa diz quais são seus padrões, métodos e o que ela recomenda e entende como bom jornalismo.
Bom, até aí tudo parece muito fácil. Mas atentem para algumas das "definições" do tal manual:
  • "Cabe ao profissional, apoiado em critérios de bom senso, determinar o grau de confiabilidade de suas fontes..."
  • "Todo o processo de edição deve estar a serviço do leitor, de sua inteligência, sua sensibilidade...."
  • "... o jornalista deve ter ocupações éticas..."
  • Informações captadas "devem estar sujeitas a confirmação cuidadosa"

E aí? O que tudo isso significa? Eu respondo: não significa nada! Ética, bom senso, inteligência e sensibilidade, blá, blá, blá.

É claro que ética. bom senso e tudo isso são fundamentais, mas, a rigor, levantá-los como bandeira é o mesmo que nada. Não são tangíveis, são subjetivos. Dizer que tal repórter teve ou não bom senso depende só de um bando de valores pessoais, e um jornal não deveria depender só de um bando de valores pessoais.

Não é realista. Como é, então, que eu comparo a realidade com isso? Simplesmente não comparo. Fico horas encarando a tela do computador, me canso e venho escrever no blog.