quinta-feira, janeiro 31, 2008

Pedido de Emergência

- Dr, mas eu não sinto nada!

- Tanto pior, meu filho, tanto pior...

domingo, janeiro 20, 2008

Sobre chegar mesmo sem saber o caminho

Havia uma série de lendas sobre aquele lugar e, secretamente, todos desejavam ir para lá. Era bom e misterioso, diziam. Era preciso ter cuidado, também diziam.

Alice conhecia todas as lendas. Já tinha ouvido que era preciso entrar pelos portões do vilarejo misterioso a curtos passos, ou os pés seriam impedidos de entrar. Ouvira também que não poderia demonstrar ansiedade ou curiosidade, senão os moradores a puniriam. E ainda escutara que o lugar era mágico e belo, porém sua visitação traria consequências trágicas. Consequências essas que ninguém jamais explicara com mais palavras do que o simples "faz mal", também dirigido aos consumidores de suco de manga com leite.

E por, como todos, secretamente desejar a experiência, foi que Alice se inflou de coragem e seguiu na direção do vilarejo sem nem bem saber o caminho.

Ela chegou lá. Chegou. Chegou, voltou apenas para contar a história, e pra lá rumou de volta.

As lendas todas pareceram simplesmente destinadas a impedir que todos, como ela, se fizessem satisfeitos do desejo secreto. O vilarejo era simples e belo, não-mágico, porém perfeito. Foi lá que Alice conheceu o homem de lata, e o espantalho, e o leão, e o fazedor de biscoitos, todos num só. É lá que ela vive há três meses.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Gravando!

Luz, câmera...

Uma senhora negra e descomposta aparece na telona. Ela fala coisas banais... ou não.

- Mãe! Mãe! Olha o trem! Olha o trem, mãe!
- Piuí, tic tac! - Faz a mãe com um sorriso arrancado do pouco de vida que parece ainda ter nela
- Piuiii, tic tac! Piuiiii, tic tac! Piuiii, tic tac! - repete a menina, e o menino, e o outro menino.

Os três filhos (incrivelmente, todos parecem ter a mesma idade) fazem côro:

- Olha o trem! Piuiii, tic tac! Tchau, trem! Tchau, trem!
- Mãe! Compra o DVD do trenzinho? - pergunta a menina
- É, o do trenzinho e o do ratinho - acrescenta o menino da direita
- Tá, a mãe compra... a mãe compra

"A mãe compra", dizia ela acariciando a barriga de já quatro meses de espera.

- A mãe compra, tá?! Agora senta aqui e fica bonzinho!

"Bom, agora me diz como foi que vc preparou esse personagem?". A pergunta e o filme são de Eduardo Coutinho. A história? Nem passou por ele. Mas poderia ter passado. É mais uma daquelas coisas geniais com que a vida te brinda num ônibus a caminho para o trabalho. Coisas geniais, tocantes e - por que não? - cinematograficamente dramáticas!

Assistir a "Jogo de Cena" me fez dar graças porque alguém percebe isso! Há uma sutileza cinematográfica na vida! Na história que cada um insiste em querer contar e nas histórias com as quais a gente vai esbarrar se olhar por lados só um pouquinho. É isso! Já sei o que eu quero ser quando crescer!