Elas nascem de rosa e aos sete anos são as chatas da pré-escola. Aos dez anos, elas são banidas do futebol, dos jogos de tazo e do "polícia e ladrão", muito embora elas nunca proibam ninguém de entrar na amarelinha.
Aos 12, elas têm que aprender a tolerar um elástico circundando o tórax.
Aos 15, elas procuram pares para a valsa, escondem a inabilidade para o romance e o gosto pela molecagem.
Aos 18, elas aprendem que a arte de ser mulher inclui responder com no máximo uma risada aos moços sujos dos ônibus e das construções da vida.
Aos 20, elas se apaixonam e descobrem - primeira grande mentira - que depender de um homem é inevitável. Mas tudo bem. É, além disso, necessário e bom.
Aos 24, elas descobrem não poder seguir planos: os anos das mulheres se conta diferente. Aos 29, elas partem ao entender que uma miniatura de vida precisa de mais mamadas do que o horário do almoço permite. Segunda grande mentira.
Aos 35, elas não toleram mais os terninhos que as separaram da pequena, agora maior e hiperativa, vida. Aos 40, elas não são mais as mesmas e enraivecem e choram sem motivo algumas vezes.
Aos 46, se tiverem sorte, elas serão felizes por terem uma casa com gente dentro e serão capazes de dar adeus aos terninhos.
Aos 55, elas precisarão de plástica, tinta de cabelo e chorarão por não saber fugir da morte.
Aos 65 - terceira grande mentira - elas serão solitárias e desejarão, talvez, a morte.
Com sorte, elas terão um ele na maior parte do caminho. É só isso que faz elas e eu continuarmos acreditando nas mentiras.
sexta-feira, maio 09, 2008
domingo, maio 04, 2008
sexta-feira, maio 02, 2008
O determinismo, o náufrago e a ilha feliz
Descobrira que a felicidade e a liberdade eram atingíveis. E, mais que isso, eram tão fáceis. Se via desprendido, leve. Era como se tudo o que mais temera até agora na verdade não existisse. Uma vez liberto dos temores, isso bastou para que o supra-sumo das sensações tomasse conta de sua existência. Tão fácil! Tão fácil...
Hoje, entretanto, descobre que, quem sabe, não nasceu pra essa coisa de felicidade fácil. A terra de onde vem o náufrago o puxa de volta. Ele tem uma corrente. Uma âncora na terra que o fez. Aquela mesma terra que lhe ensinou os temores e onde ele aprendeu o medo, a insegurança, a hipocrisia e a culpa. Aquela mesma terra o puxa de volta.
Ele preferia continuar náufrago. Na ilha deserta ele não é solitário. Na terra que o criou, ele é.
A história não tem fim. Ele nasceu na tristeza. E, tomara deus, ele consegue fugir de casa antes dos 40.
Hoje, entretanto, descobre que, quem sabe, não nasceu pra essa coisa de felicidade fácil. A terra de onde vem o náufrago o puxa de volta. Ele tem uma corrente. Uma âncora na terra que o fez. Aquela mesma terra que lhe ensinou os temores e onde ele aprendeu o medo, a insegurança, a hipocrisia e a culpa. Aquela mesma terra o puxa de volta.
Ele preferia continuar náufrago. Na ilha deserta ele não é solitário. Na terra que o criou, ele é.
A história não tem fim. Ele nasceu na tristeza. E, tomara deus, ele consegue fugir de casa antes dos 40.
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